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Mitologia Greco-Romana: A Queda de Faetonte

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Mitologia Greco-Romana: A Queda de Faetonte Empty Mitologia Greco-Romana: A Queda de Faetonte

Mensagem por Mateus Teixeira Seg Ago 07, 2017 4:04 pm

É natural do comportamento masculino, principalmente na juventude, o ímpeto da competição e da busca pelos atributos do poder. Isso se revela em todas as áreas da vida, mas se torna especialmente perigoso quando relacionado ao poder político e ao conhecimento intelectual. Este tema é tratado nos mitos de Ícaro e da Queda de Faetonte, o filho do deus Sol (Febo); mas o segundo aborda de uma maneira ainda mais explicativa.
Faetonte, filho de Febo com a ninfa Climene, foi um adolescente impetuoso e competitivo. Viveu sua vida em relativa paz, mas afastado do pai, que tinha que cuidar do Carro do Sol, a carruagem puxada por cavalos de fogo indomáveis que cruzava os céus diariamente para levar a luz aos povos, seguindo logo atrás da Aurora.
Um dia, Epafo, filho de Júpiter, que era amigo de Faetonte, numa de suas tradicionais disputas afirmou que ele não era filho do Sol. Indignado, o jovem afirmou que obviamente o era, pois não podia ser filho de outro. Epafo, então, o desafiou: Ele deveria, nesse caso, levar o Carro do Sol pelos céus. Afinal, se era filho de Febo, teria a capacidade de fazer isto.
Indignado, Faetonte voltou ao local onde sua mãe morava e a questionou: “Sou mesmo filho do Sol, mãe?”. Ela, como era de se esperar, se irritou com a pergunta, dizendo que sim, ele era filho do Sol, bastava ver seus cabelos dourados e reluzentes e sua pele bronzeada. O jovem, então, disse que queria uma prova. Climene, ainda mais irritada, perguntou o que ele queria, obtendo como resposta: “Quero conduzir o Carro do Sol.”
Apavorada, a mãe tentou persuadí-lo a abandonar aquela ideia louca, mas de pouco adiantou. Faetonte fugiu de casa e iniciou uma longa e penosa viagem até o extremo Oriente, onde ficava o palácio dourado de Febo. Lá chegando, foi recepcionado com surpresa pelo pai, que o abraçou e se orgulhou em ver o quanto o filho havia crescido. Ele, porém, não havia tirado da cabeça a louca ideia de conduzir o Carro do Sol.
“Pai, se sou mesmo seu filho, quero que atenda a um pedido meu”. Ele disse, enquanto o pai resolvia os últimos assuntos durante a madrugada, antes que a Aurora partisse e ele tivesse que sair com seu Carro. Um tanto atarefado, o pai assentiu com a cabeça, sem prestar atenção. “Prometa!” Insistiu o filho. “Sim, meu filho, eu prometo que atenderei a qualquer pedido seu. Diga.” Febo disse, sem imaginar o que viria. Só prestou atenção ao que o filho dizia quando o ouviu proferir aquela loucura.
O Sol tentou dissuadí-lo da ideia novamente, com ainda mais veemência do que todos os outros. Se todos tinham uma ideia vaga do quanto era difícil conduzir o Carro do Sol, o próprio entendia na pele o significado daquilo. Faetonte, porém, insistiu ainda assim, teimoso e resoluto em sua decisão de provar para todos que era o filho do Sol e que tinha a capacidade de fazer o que o pai fazia.
Por ter dado sua palavra, o pai acabou cedendo e permitindo que o filho fizesse aquilo, embora com o coração pesado. Sabia que as chances de ocorrer algum problema eram enormes.
Naquele momento, viram que a Aurora já partia. Febo ainda fez uma última tentativa, pedindo para que o filho aguardasse até o dia seguinte, mas Faetonte impacientemente afirmou que queria fazer aquilo agora. Os servos gigante de Febo já estavam se dirigindo aos estábulos, onde estavam os indomáveis cavalos de fogo, para amarrá-los ao Carro do Sol. Pai e filho se encaminharam para lá, onde o filho finalmente pôde ver os perigosos animais presos à bela carruagem dourada e reluzente. Encantado com aquela visão, sequer percebia a dificuldade que os gigantes tinham para prender os cavalos e o tremendo calor que se espalhava pelo ambiente assim que eles respiravam ou olhavam para algum lado.
Febo ainda tentou dar alguns conselhos para o filho, que não prestava muita atenção ao que dizia o pai, pois sua atenção era toda roubada pela beleza do Carro e dos cavalos. Quando os servos terminaram de prendê-los, o jovem subiu na carruagem, que tinha um sistema aparentemente fácil: Possuía um eixo, um timão e quatro rodas, tudo feito de ouro, além de um assento e das rédeas para controlar os cavalos.
Então, com uma chicotada, os cavalos partiram. A primeira parte da viagem foi bem simples: Os cavalos, concentrados em subir aos céus, não deram muito trabalho ao jovem, que já começava a acreditar que a preocupação dos pais era exagerada.
Após algum tempo, estavam já no topo, de onde deveriam partir em linha reta. O jovem filho do Sol se sentiu extremamente poderoso: Via abaixo de si toda a Terra, como um deus. Se espalhavam abaixo de si cidades, montanhas e bosques. Via algumas pessoas numa cidade próxima, tão pequenas quanto formigas. Naquele momento, ele se sentiu o ser mais poderoso do universo.
O Carro do Sol nunca podia descer muito, para não ameaçar a vida dos mortais, nem subir muito, para não ofender e prejudicar os deuses. Faetonte, porém, não conseguia segurar as rédeas dos cavalos de forma correta; afrouxava e apertava, vacilava em seu domínio, negligenciava o timão do Carro. Logo os cavalos perceberam que estavam relativamente livres, começando então a desafiar o domínio das rédeas. Como não tinha força para controlá-los, o Carro começou a balançar de forma desenfreada. Por duas vezes o jovem quase despencou lá de cima, se agarrando ao eixo para que aquilo não acontecesse. Logo, os cavalos começaram a descer. Primeiro passaram das nuvens, logo viajando descontroladamente abaixo delas. Os prédios mais altos e templos começavam a queimar conforme os cavalos vinham puxando o Carro do Sol sem nenhuma direção correta. Cada vez mais eles desciam, até quase tocar o chão. Cidades queimavam inteiras, florestas e bosques sumiam, consumidos pelo fogo. As pessoas que saíam para ver o que estava acontecendo eram consumidas pelas chamas; suas peles derretiam e seus pertences eram consumidos rapidamente.
Logo os cavalos avançavam em direção ao Mar. Por onde passavam, a água rapidamente evaporava. O fundo dos oceanos, sempre escondido aos homens, começava a ser visto. Milhões de peixes agonizavam por alguns poucos segundos antes de também serem consumidos pelas chamas. Netuno, deus dos Mares, notando aquele ataque aos seus domínios, rapidamente se dirigiu ao Olimpo, onde relatou o acontecido a seu irmão, Júpiter, o deus dos deuses. Mercúrio foi enviado para buscar Febo, em seu palácio. Ao chegar ao Olimpo, o Sol recebeu uma repreensão veemente, mas assumiu que aquilo só estava acontecendo pela sua fraqueza em lidar com o próprio filho, implorando por perdão.
Todos os deuses olímpicos assistiam com apreensão o destino do Carro do Sol. Os cavalos se encaminhavam agora em direção a uma praia, onde um menino brincava inocentemente. Netuno, percebendo a morte iminente do menino, pediu a seu irmão que tomasse alguma atitude para impedir ao menos mais aquela catástrofe. Assim o fez Júpiter, que preparou um de seus raios.
Enquanto isso, Faetonte sofria um tormento absurdo. Vinha tentando controlar os cavalos o tempo todo. Seu corpo estava extremamente queimado pela proximidade com o calor; suas mãos, em carne viva pelo contato direto com as rédeas incontroláveis, que ainda por cima estavam quentes. O jovem já estava à beira da inconsciência e prestes a largar as rédeas, o que o faria ser arremessado para fora do Carro e morrer pela queda, quando de súbito um enorme estrondo assusta os cavalos e os faz mudar a rota que seguiam, subindo novamente na direção do céu, dando a oportunidade para que Febo saltasse do Olimpo para o Carro do Sol, tomando novamente as rédeas para prosseguir, dessa vez no caminho correto. É que Faetonte, agora um corpo carbonizado caído próximo à praia, foi atingido em cheio por um dos raios de Júpiter, o que impediu que mais catástrofes continuassem a acontecer e deu um fim à miséria do jovem.

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Esta é uma história com uma lição realmente profunda a todo jovem que começa a entrar em contato com um conhecimento profundo ou tem a oportunidade de ter para si um poder realmente grande.

- Todos os problemas começam a partir de uma simples provocação de Epafo, filho de Júpiter, para Faetonte, filho de Febo. Cego por ela, Faetonte se arrisca perigosa e desnecessariamente, deixando de ouvir tanto sua mãe quanto seu pai. Fica o questionamento: Até onde devemos levar à sério as provocações e besteiras que os outros falam?
- O ímpeto do jovem filho do Sol o faz realizar um grande feito: Ele cruza o mundo somente para encontrar o palácio de seu pai. Cego, porém, pela necessidade de provar a todos que ele era mesmo o filho do Sol, Faetonte sequer tira para si um momento de descanso. Ao encontrar o pai, vai ávido ao desejo de guiar seu Carro. Ou seja, ele sequer pôde aproveitar do caminho ou da conquista que já tinha, tão envolvido na “missão” que tinha.
- Vale ressaltar o significado profundo Carro do Sol. O Sol sempre esteve relacionado, em todas as culturas, à força vital e ao poder cósmico; ao conhecimento, à realeza, à paixão. O Carro do Sol é a encarnação destas características, ou seja, é como o trono de um rei. Obviamente, um jovem inexperiente não estaria apto a guiá-lo, tal como um adolescente não tem condições de administrar por conta própria um país, uma grande empresa, ou lidar com todas as nuances do conhecimento, por falta de sabedoria. Este é um erro de muitos que buscam um conhecimento avançado logo na juventude. Afobados, tentam se tornar algo que não têm condições de ser, deixando de aproveitar as conquistas que já atingiram e o momento em que se encontram, tentando agir como se já fossem aquilo que almejam ser.
- A viagem de Faetonte no Carro do Sol exemplifica a vida do jovem que busca viver aquilo que ainda não tem condições de administrar. Além de causar problemas e catástrofes a pessoas inocentes, cada vez mais é consumido pelo próprio caminho escolhido, vivendo num verdadeiro inferno.
- Por fim, o inevitável: Se não for derrubado por suas próprias atitudes inconsequentes, aquele que não tem condições de lidar com as situações que cria para si próprio é eliminado por um poder maior, que é fulminante e irrevogável. Seu fim é triste e normalmente é lembrado de forma negativa pela sociedade.

Num tempo em que a degeneração cobra cada vez mais de jovens que produzam intelectual e politicamente, as lições a serem retiradas deste conto são ainda mais importantes. Deixo aberta a discussão a quem tiver mais a acrescentar ou debater.
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Mensagem por Iberianwolf Ter Ago 08, 2017 1:25 pm

Muito interessante esse mito, acho que a principal lição que podemos tirar dele, resumidamente, é que se quisermos poder e conhecimento ( representado pela carruagem solar) devemos estar preparados para lidar com eles e principalmente para aceitar as consequências e o preço de possui-los (Perder a própria vida, mortes, destruição, sofrimento como aconteceu com o protagonista do mito).


“Poder é sempre perigoso. Atrai o pior e corrompe o melhor. Nunca pedi por poder. Poder só é dado para aqueles que estão dispostos a abrir mão de si por ele.” — Ragnar
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